sexta-feira, 17 de junho de 2011

A loucura do professor Oswaldo

(Crônica às aulas de matemática do ensino fundamental)

O
 Professor Oswaldo era meio maluco. Havia quem dissesse que o pobre diabo era completamente “tan-tan” do juízo. A verdade é que ele era espirituoso de tal modo que quando se excedia tinha uns ataques de loucura! Sempre iniciava as aulas de matemática dizendo: “Deus...”, essas quatro letras arranjadas de modo tão grandioso aos ouvidos, soavam de seus lábios com uma intensidade tão forte que jurávamos poder ver suas cordas vocais pularem da garganta. Após essas quatro letras, que compõem tal temível e venerável palavra, seguia-se um silêncio sepulcral composto aqui pelas reticências: “Deus... fez o mundo com formas geométricas perfeitas! Ele, o todo-poderoso, é o primeiro e supremo, sublime matemático. Sua perfeição representa a própria matemática, perfeita em si... Deus é a matemática e eu... sou o seu magnífico anunciador, aquele que vos trás, a vós leigos, sem luz, as boas novas dos cálculos...”
            Aquilo dava um discurso horrível!
            Sabíamos que o divino não poderia ser de todo matemática, afinal, como víamos no livro de capa preta das aulas de religião, ele ama suficientemente os homens, se preferisse mais a exatidão dos cálculos à humanidade, imperfeita e inexata em si, teria criado a primeira bomba atômica, naturalmente, com seus cálculos e explodido os miolos de todos esses presunçosos como o professor Oswaldo.
            Ficávamos geralmente atônitos e com ares de espanto na sala de aula, enquanto o professor de matemática deslizava pelo quadro com seus esquadros, réguas e transferidores... A propósito, ele lembrava outro professor de matemática que tivemos, não menos louco, que falava sozinho e detestava quando dávamos como resposta ao final de uma equação “nada”, no lugar de “zero”, dizia: “O nada não existe, deixem sua reflexão inútil aos filósofos! Matematicamente se diz ZERO!”, e principalmente quando desenhávamos figuras entortadas no quadro negro, justificando-se pela exatidão da matéria! 
            No fundo, eles gostavam mesmo era daqueles rostos emburrecidos, leigos e assustados que confusamente os contemplavam nas horas de suas aulas, como quem contempla o abismo em que tem que pular... Deveriam se sentir como um Albert Einstein palestrando para inexperientes!
            Verdade é que aquela aula durava uma eternidade! Quando por fim, tocava o sinal de saída, estávamos todos saturados e um pouco contagiados com a loucura do professor Oswaldo.
Mario Santos, Dezembro de 2009.  

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